sexta-feira, 16 de julho de 2010

Lágrimas

Eu caí na armadilha de me apaixonar novamente. E achei que desta vez seria diferente, mas não é. Estar apaixonada sozinha continua doendo, não mudou com o passar do tempo. E as coisas vão se acumulando. É um problema aqui, outro ali, os dias passando... durante a semana não é tão difícil, mas os finais de semana, ah, os finais de semana... são tão vazios de companhia. Quando você não está apaixonada, por mais que queira ter alguém, este alguém é imaterial, você só imagina como deveria ser. Mas quando vem aquela pessoa, do nada, e te conquista, e você acha que desta vez vai dar certo, vai ter alguém do seu lado, vai ter carinho, um ouvinte, uma companhia, alguém pra fazer tudo e pra fazer nada, pra amar, cuidar, desabafar, você abre seu coração novamente e aí descobre que não foi nada disso para a outra pessoa. Só você se envolveu. Para a outra pessoa foi só um ficar e talvez ela até queira ser sua amiga, mas você não quer apenas amizade. Esta pessoa que antes era imaginária, tomou forma, tomou corpo, você conhece o rosto, você conhece a voz, você sentiu o carinho... não é mais como era antes! Tudo mudou. E aí você se torna mais sensível porque seu coração ficou exposto. E você se magoa facilmente, mesmo que a outra pessoa não tenha a intenção de te magoar. E você chora porque dói ver que os finais de semana se tornaram mais compridos, que agora você quer compartilhar com aquela pessoa detalhes de sua vida, desabafos, como foi seu dia, seu desejo de colo e não pode fazer isto.
Você vai fazer um exame e de repente se sente a pessoa mais sozinha do mundo, dói e você não tem ninguém para te dar um abraço e você sabe quem você queria que te abraçasse naquele momento. Você tem o desejo de ligar só para dizer: tá doendo e sabe que não dá para ligar. Então as lágrimas continuam caindo porque agora não é mais um motivo apenas. A dor física se junta com a dor da solidão, do abandono. Você olha à sua volta e vê dezenas, centenas de pessoas e ainda assim sabe que está totalmente só. É difícil conter as lágrimas e as dezenas, centenas de pessoas à sua volta nem percebem que você chora. Você até tenta segurá-las, mas ainda assim elas enchem os olhos e transbordam e escorrem involuntariamente.
Mas você sabe que tem que continuar indo em frente, tem obrigações a cumprir antes de finalmente chegar em casa e se trancar com sua solidão.
E a pessoa, a tal pessoa talvez te diga: "Por que você não me ligou? Você sabe que pode desabafar comigo."
Mas o que ela não sabe, o que ela não entende é que ligar para ela dói mais do que não ligar, porque quando você ligar terá um ombro amigo, mas você quer mais do que o ombro amigo e você sabe que não terá o algo mais, então não ligar também dói, mas a dor é menor.
E a dor física vai continuar incomodando e a dor na alma também, suas lágrimas continuarão a cair, mas você sabe que um dia vai passar, sempre passa. Mas, por enquanto, você precisa sentir esta dor, extravasá-la. Você não quer mais controlar as lágrimas, quer deixá-las escorrerem livremente por seu rosto, enquanto se controla para não ligar, para não mandar uma mensagem, não fazer contato. É uma dor forte e você mantém a esperança de que ela vai passar.
É, eu me apaixonei...

Um comentário:

  1. Sentimentos e suas armadilhas...Ah, o amor, a paixão...
    Me vi nesse post em diversas vezes...
    Enfim, a gente sobrevive!

    Refletindo:

    AUSÊNCIA DO NADA

    "Cada pedaço de mim sabe o inferno
    que é ser sol em noites de chuva,
    ser cor nos cinzas dos edifícios,
    ser luz na escuridão das manhãs.
    Cada todo de ti sabe a delícia que
    é ser flor nas asas do vento,
    ser cristal nos olhos das fadas,
    ser azul no fundo do mar.
    Cada suspiro de nós sabe a
    angústia que é ser só um na
    multidão dos dias, ser muito na
    pobreza da esquina, ser ninguém
    na roda da vida.
    Enquanto isso os relógios se vão,
    e vêem aqueles que sabem o que é
    apenas ser na ausência do nada".

    Clarice Lispector
    --

    Beijos da amiga pentelha-radical,

    Ana

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